Ilhas - Centro Cultural Justiça Federal [RJ, 2015]

by - julho 14, 2017



Curadoria e texto crítico: Daniela Name

Shopping centers são centros comerciais onde o que menos importa é a convivência. A ode ao consumo caminha em paralelo com a despersonalização dos lugares e do relacionamento entre as pessoas. Transitar por seus corredores assépticos e frios leva as pessoas a “não-lugares”, nos quais o desconforto causado pelo vazio evita que o consumidor permaneça muito tempo no mesmo local, estimulando a circulação pela lojas e a compra. Em sua individual “Ilhas”, em cartaz de 17 de abril a 31 de maio no Centro Cultural Justiça Federal, o artista plástico Raul Leal questiona a natureza desses lugares por meio de pinturas a partir de fotos de vários ambientes de shopping centers. Por meio da pintura, esses espaços ganham cor, e alguma possibilidade de vida.


“Os corredores dos shoppings são espaços ocos, onde nada acontece. Daí o nome da exposição, que remete ao isolamento e ao tédio. Isso é reforçado por uma arquitetura padronizada, que não remete a um lugar que possa ser fixado na memória das pessoas. Shoppings são iguais em qualquer lugar do mundo”, observa Raul.

A mostra atual dá sequência à pesquisa do artista sobre a paisagem urbana. Ele se interessa pela rua e como as pessoas interagem com a cidade. Para isso, utiliza a mesma técnica de trabalhos anteriores: as pinturas começam com a fotografia. Leal projeta fotos de espaços urbanos, manipulados digitalmente, removendo os elementos que considera excessivos e tira dessa imagem a ideia para a obra.


A figura humana é essencial no trabalho de Raul. Ela se relaciona com o espaço urbano, seja a rua ou o interior do shopping, mas é apresentada de forma pouco nítida, por meio de silhuetas e sombras. É a proposta de seu trabalho mostrar como o humano pouco consegue interagir com seu entorno. Suas obras visam a causar esse estranhamento e mostrar como as relações das pessoas com o espaço e entre si estão cada vez mais fluidas e fugazes.

“O espaço urbano não é mais um espaço de convivência. Tornou-se, em geral, lugar de passagem, seja nas ruas, seja dentro dos shoppings. Há uma clara falta de identificação nas cidades contemporâneas. Elas não convidam à relação e sim à indiferença”.


No caso dos shopping centers, tema da exposição no Centro Cultural Justiça Federal, a situação é ainda mais complicada, segundo Leal. Nesses locais, a desumanização visa a alimentar o consumo compulsivo na criação de um comportamento calculado para inibir a socialização.


“A arquitetura do shopping é feita para as pessoas irem de um ponto A ao ponto B. O objetivo é estimular a compra. Diferentemente da rua, que é um ambiente aberto ao acaso, onde qualquer coisa pode acontecer, e que imprime uma memória afetiva, nos shoppings, o ambiente é absolutamente controlado e inibidor. O aparato de segurança deixa claro, com seu circuito interno de câmaras e grandes homens ameaçadores de terno e gravata, que quem entra no shopping deve consumir. E ir embora. Daí a grande discussão que se deu por conta do fenômeno dos rolezinhos. Os jovens da periferia, com poucas opções de lazer, escolheram o shopping para socializar, rompendo esse paradigma e trazendo uma possibilidade de caos que não pode ser absolutamente permitida num ambiente que se pretende público, mas é privado”, analisa o artista.



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