Textos Críticos
Nada acabará, nada ainda começou - Isabel Sanson Portella
Nada acabará, nada ainda começou
Centro da Música Carioca Artur da Távola
Rio de Janeiro/RJ, 2016
Nada acabará, nada ainda começou
Galeria do lago – Museu da República
Rio de Janeiro/RJ, 2015
Ilhas - Daniela Name
Sentia-se muito jovem e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um dia que fosse. [1].
(outros textos da curadora sobre o artista)
Ilhas
Centro Cultural Justiça Federal
Rio e Janeiro/RJ, 2015
Raul Leal elimina qualquer aspecto efervescente das cenas que concebe, sejam elas ocorridas numa praça, praia, avenida ou shopping Center, espaços tradicionalmente relacionados à dinâmica dos encontros e à potência das ligações interpessoais. Particularidade da sua ampla produção pictórica encontra-se no fato de que essas séries de trabalhos representam cenas congeladas – muitas vezes desabitadas ou com pouca evidência de presença humana – em íntima relação com sua gênese: o índice fotográfico. O artista captura imagens, enquadra-as, elege-as em meio à miríade de possibilidades oferecidas nas suas diligências visuais por esses espaços de predileção. Em seguida manipula, depura, recorta, modifica os ‘códigos’ fotográficos através dos ‘códigos’ dos softwares de edição. As evidências que aproximariam a imagem de seu referente passam então a ser completamente atenuadas, transformadas em parâmetro idealizado de paisagem, em substrato conceitual para a realização de cada projeto de pintura. Nesse trabalho de edição, o que interessa a Raul Leal é que a cena representada passe a existir enquanto espaço pictórico, embora mantenha na fina espessura da tinta aquela bidimensionalidade característica da imagem fotográfica, seja na sua impressão sobre a superfície do papel, seja na exibição no monitor do computador.
Nessas pinturas de superfície, tão delgadas quanto a espessura da fotografia e a espessura da estampa, os campos um pouco mais densos de cores constituem o conjunto de fragmentos que dão forma às coisas – às vezes mais dependentes do referente, outras, completamente autônomas –, partes que se relacionam entre si, articulam-se de modo a constituir uma imagem maior, insinuando, de algum modo, a possibilidade de reconstrução da cena capturada. Juntas, essas ‘formas’ movem-se lentamente, deslizam sobre um ‘fundo’ movediço, ralo, em que o pigmento agora aquarelado escorre de modo fluido pela superfície da tela. São nestes procedimentos mais acidentais, pouco controlados, em contraste com a precisão e constância das partes em evidência, que se desvela uma temporalidade lenta, representando o caráter efêmero tanto das coisas em si quanto do modo como são apreendidas subjetivamente. Essas imagens reforçam a impressão de vida em suspensão, de um mundo à espera da confirmação de sua existência. Elas vivem na imanência de existir para além de sua mera condição visual.
Arquivo Contemporâneo
Rio de Janeiro/RJ, 2013
Um lugar provisoriamente habitado
Amarelonegro Arte Contemporânea
Rio de Janeiro/RJ, 2011
Urbano e pessoal - Humberto Farias
A obra de Raul Leal acontece a partir de uma pesquisa focada na memória urbana. O percurso de sua construção artística inicia-se na fotografia, em um processo de congelamento temporal e espacial dos ambientes metropolitanos. Seu procedimento de intervenção na imagem pretende despersonalizar a fotografia ao trabalhar as formas e silhuetas de modo que cada um seja a representação de todos – as imagens pintadas de pessoas na cidade não têm o propósito de retratar ou de possibilitar reconhecimentos; o artista as representa como figuras humanas anônimas. Não obstante, Raul Leal humaniza sua obra por intermédio da pintura e sai do mecanismo de captação para o de sensibilização: retira a personalidade das pessoas fotografadas e, no lugar, imprime a sua através do gesto do desenho, dos elementos da linguagem pictórica e de sua interpretação dos vários ambientes urbanos – assim, sua investigação está alicerçada fundamentalmente no diálogo entre os meios da fotografia e da pintura.
Para esta exposição na Galeria IBEU, Raul propõe uma expansão do espaço expositivo, desenvolvendo suas pinturas a partir da apreensão do ambiente urbano que envolve a galeria. De forma sutil, o artista propõe ao fruidor uma relação de experimentação que se desloca do campo externo para o interno, do urbano para o pessoal.
Contraimagem
Galeria de Arte Ibeu
Rio de Janeiro/RJ, 2009
Contraluz
Amarelonegro Arte Contemporânea
Rio de Janeiro/RJ, 2009